Universidade do Minho  

           
 
  Autenticação/Login
 
homepage
mapa do site
como chegar
contactos
   
  imprimir
 

voltar 

No início do seu mandato a 2ª Comissão Instaladora da Casa Museu de Monção gizou e aprovou um plano de actividades para o 1ª semestre de 2003 que foi apresentado aos jornalistas no Auditório da Casa Museu de Monção, a 6 de Dezembro de 2002, tendo na circunstância sido dada a conhecer a primeira brochura publicada pela Casa Museu: Monção em "O Minho Pitoresco", fac-simile do capítulo dedicado ao concelho da conhecida obra de José Augusto Vieira de 1886, com introdução do Prof. Doutor José Viriato Capela, de cuja apresentação se encarregou o Dr. Henrique Barreto Nunes.

Na sua nota introdutória pode ler-se o seguinte: “Pretende deste modo a referida Comissão cumprir com os objectivos do Legado e Casa Museu que para além da valorização e divulgação, sob o ponto de vista museológico, patrimonial e cultural do imóvel e do seu recheio deve, sem prejuízo da político cultural da Universidade, prestar uma especial atenção ao meio e às instituições da região em que se insere a nova Unidade Cultural, «de molde a ser uma unidade aberta à comunidade e interactiva com as demais realidades sócio-culturais existentes na região».

Neste contexto decidiu a edição de um texto de J. Augusto Vieira sobre Monção e seu concelho retirado da obra O Minho Pitoresco (1887) que nos parece integrar-se plenamente naqueles objectivos gerais fixados para a Casa Museu. Com esta edição presta-se homenagem à Senhora Dona Maria Teresa Salgueiro ao divulgar uma obra de grande importância para o Minho e especialmente para Monção, a que ela estava profundamente ligada por laços afectivos como se da sua terra natal se tratasse. Divulga-se pois Monção, a sua terra, a sua vila e a sua aldeia, a sua gente, os seus costumes, a sua história, a sua tradição através de um escrito de grande qualidade literária e estética. E também se coloca à disposição de um público mais crítico uma obra que integrando-se de pleno no sentimento e propaganda regionalista para o desenvolvimento de Portugal de fins do século XIX, pode estimular a reflexão sobre o estádio e as coordenadas gerais no nosso desenvolvimento integrado designadamente na perspectiva da participação e papel das realidades regionais e concelhias e da componente histórico-cultural do desenvolvimento.

O texto que agora se edita, sob a forma de «fac-símile» integra-se numa das obras de clássica referência para o Minho. Escrita nas coordenadas do movimento regionalista português do último quartel do século XIX, O Minho Pitoresco inscreve-se nesse grande movimento de elogio das "virtudes" e capacidade da terra e do povo português e nas coordenadas da sua História Local. Esta obra tem sido justamente considerada um Hino ao Minho: «O Minho! O jardim de Portugal! Quantas vezes, leitor, tens tu ouvido designar assim esta formosa província, d’entre todas as suas irmãs a mais populosa e a mais activa, a mais pitoresca e a mais hospitaleira, seio uberrimo das tradições que individualizam uma nacionalidade, terra onde a vegetação é luxuriosa e onde os espíritos conservam as qualidades afectivas desse génio celta, que foi o nosso fiat genesico e d’essa alma grega, que foi a nossa iniciação artística.

Berço, onde se embalou a nacionalidade portuguesa, o Minho tem sido o tabernáculo sagrado das nossas tradições étnicas, subversivo e revolucionário no momento das grandes crises nacionais, cultivador da terra na tranquilidade bucólica da paz, amoroso de raça, emigrador e fecundo por condições do meio» (Da abertura da Introdução, pag. III, grafia actualizada).

Fortemente credora da Geografia regional portuguesa, mas também das contribuições da antropologia física e cultural e dos desenvolvimentos dos estudos etnográficos e sociológicos com ela articulada a obra de J. A. Vieira - como de outros escritores minhotos coevos - não deixam de explorar nas mais vastas direcções as marcas das singularidades, as pulsações telúricas e anímicas da terra e da população minhota no quadro de uma terra geográfica e étnico-culturalmente bem demarcada. E por elas adentro uma preocupação comum à cultura, ao pensamento e historiografia da época, o contributo único e singular da Província do Minho e da Galécia em que se insere para a constituição histórica e a independência de Portugal.

O Minho vai aí integrado no grande espaço da cultura étnica galaica, da «zona galiziana» que mais intensamente une a Galicia Lucense à Galicia Portucalense que a outras regiões espanholas ou à zona «algarvia» turdetana portuguesa do Sul, em consonância de discurso com Oliveira Martins (entre outros em Portugal) e dos coevos Benito Vicette e M. Murguia na Galiza.

O Minho fundador e aglutinador da terra Portuguesa, ele é nesta escola de pensamento o depositário por excelência dos valores e virtudes da raça que conferem ao Minho do presente (1887) qualidade superiores da sua população e da sua organização social (em que associa e junta no mesmo saco as virtudes da enfiteuse para o regime agrário e os traços do comunitarismo celta para a organização social) o mais importante espaço de desenvolvimento social, cultural, económico do mosaico português.

Exageros naturalmente de apreciação etno-regionalista que faz volver ponto forte o que é uma fraqueza: a sua emigração, vista pelo lado da capacidade da raça e da terra de produzir uma população conquistadora e povoadora sem a olhar nas incapacidades de absorver localmente essa mão de obra que busca a sobrevivência ou a melhoria do seu nível de vida na emigração.

A obra " O Minho Pitoresco" nas suas descrições feitas pelos concelhos pretende ser um guia de viagem: «não é outro o intuito da presente publicação senão este de percorrer canteiro por canteiro o grande jardim de Portugal, colhendo de cada um a nota que nos parece mais interessante e adequada, ou seja sob o ponto de vista da arte, da paisagem, da história, como de etnografia, da estatística, etcª, mas sem que tenhamos a respeito de qualquer a veleidade de tentar resolver problema que só aos eruditos pertencem que só em livros de outra género se podem desenvolver um profundeza» (Da Introdução, pag. XIV).

Viagem que se desenvolve pelas novas estradas de Portugal que o Fontismo e a Regeneração abriram utilizando as conquistas do século, o automóvel a motor. Ela é por isso antes de mais uma aproximação à nova rede rodoviária macadamizada do concelho (e dos demais concelhos dos Distritos de Braga e Viana) e também aos percursos hoteleiros e logísticos postos à disposição do viajante, virado turista automobilizado que nos transporta em viagem em grande medida periférica – pelas paróquias do concelho, saindo da vila e aí regressando porque efectivamente só aí se encontram os recursos de hospedagem e hotelaria mais qualificados.

A descrição da viagem segue antes de mais a contemplação "estético-literária" das belezas que a paisagem proporciona e patenteia. Mas logo também em excursões sectoriais ou "zooms" particulares aqueles aspectos ou territórios que a cultura, a bibliografia, o modelo e paradigma da viagem feita ou "imaginada" condiciona e proporciona.

Do horizonte da Geografia decorre alguma atenção à geografia física, à geomorfológica, aos cursos dos rios, ao clima, suportes e condicionantes das principais culturas, os cereais e em particular o vinho de Monção. Da antropologia física e cultural o olhar etnográfico e sócio-cultural sobre os povos e as comunidades, nas suas tradições, costumes, festas e romarias e cultura material. Em Monção naturalmente um lugar destacado terá à descrição da festa do Corpo de Deus com todo o seu maravilhoso sacro e profano e imaginária que dá corpo e suporta o combate entre o Bem e o Mal, S. Jorge e o Monstro, a Serpe ou Santa Coca. Da História e da Arqueologia na atenção aos restos arqueológicos, aos monumentos, às lendas e às narrativas, e às figuras históricas proeminentes e aos ilustres locais marcantes da personalidade, antiguidade e afirmação nacional da terra e concelho de Monção.

A viagem concelhia é feita em périplo pelas paróquias que compõem o mosaico do concelho, sobre cada uma das quais Augusto Vieira, em perfeita ligação e grande continuidade com a descrição corográfica das paróquias recentemente vivificada em Pinho Leal na sua Portugal Antigo e Moderno (1875) ou na Corografia Portuguesa de Carvalho da Costa por então reeditada (1868) nos fornece os referentes históricos clássicos da antiga "viagem corográfica", cada vez mais inócuas e historicistas, a saber, a etimologia da terra, os oragos, os padroados, os rendimentos do benefício paroquial, as capelas, as quintas, os morgados, os conventos, as datas do foral, os antigos quadros e oficialato concelhio. E também no Dicionário Corográfico de J. Avelino de Almeida (    ).

Entre o paradigma antigos e recentes da visão e descrição das terras, interpõem-se a realidade emergente deste Minho de finais do século XIX por onde é possível atentar em especial a partir dos seus monumentos, o trânsito e fim da velha ordem fidalga aristocrática moribunda desde 1834, no abandono e ruína dos Mosteiros (mais precoce em Monção por causa da queda e desgraça dos jesuítas com Pombal; no abandono e ruínas das capelas, expressão da crise e quebra do forte enquadramento e vida religiosa do passado absolutista; na transformação da carta concelhia que se reorganizou na fixação dos novos limites e paróquias do concelho de Monção por sobre os escombros dos extintos concelhos de Valadares e couto de S. Fins.

É o Portugal Velho que se acaba e se mostra moribundo nestes monumentos decadentes, mas é também o Portugal novo e a Nova Monção que se pretende construir, regionalista, municipalista e descentralizador que parece ser a perspectiva prevalente do autor. Significativo é que esta obra de J. Augusto Vieira com este pendor seja dado à estampa quando se extingue quasi a chama do mais profundo movimento e experiência descentralizadora promovida pelo Código descentralizador de R. Sampaio no século XIX entre 1875 e 1888, que a crise financeira do Estado de finais do século suspenderia.

A obra de J. Augusto Vieira é realmente uma peça significativa deste movimento nacional de regeneração pelas Províncias, pelas regiões, pelas paróquias, pelos municípios..., pela raça, pela História local e regional que envolve a literatura de carácter anti-centralista e "anti-absolutista" do último quartel do século XVIII. Em planos muito próximos ainda que com pinceladas mais largamente impressionistas ela deve juntar-se ao Alberto Sampaio, ao D. António da Costa e outras figuras maiores da cultura e literatura regionalista minhota coeva.

«Paremos: como num voo de fantasia perpassou diante dos nossos olhos, emoldurada na fugitiva linha da sua viridente paisagem, a perspectiva encantadora, ao mesmo tempo histórica e pitoresca, desse jardim de Portugal. É tempo de percorrer as suas aleas, de examinar canteiro por canteiro, de escutar os segredos das suas florestas, ouvir o murmurio dos seus rios, os canticos das suas aves, as tradições do seu povo, a história dos seus monumentos. De norte a sul.» (Do encerramento de Introdução, pag. XVI)

Percorremos pois com a ajuda deste texto de J. Augusto Vieira agradável e estimulante de sensações e emoções apoiado nas ilustrações de José Pedreira e João de Almeida, companheiros de viagem nas belíssimas gravuras que ilustram o texto Monção e as paróquias do seu alfaz. Não sem porém deixarmos de alertar o leitor para o ultrapassado de algumas informações históricas e etimológicas, compreensíveis no quadro dos conhecimentos históricos da época, mas cuja revisão crítica não é de todo compaginável com a presente edição.


Título Monção em "O Minho Pittoresco"
Menção de Responsabilidade VIEIRA, José Augusto, 1856-1890
Autor da apresentação: CAPELA, José Viriato
 
Publicação Braga : Casa Museu de Monção, 2002

Descrição Física [6] p., p. 41-75 : il. 27 cm

voltar 


 

        

 
  © 2024 Universidade do Minho  - Termos Legais  - actualizado por CMM Símbolo de Acessibilidade na Web D.